Os 5 erros que custaram 100 bilhões à nossa indústria
Como viramos de potência industrial a economia de uber
Como viramos de potência industrial a economia de uber
Olá!
Você sabia que nos anos 1980 o Brasil era uma potência industrial maior que China e Coreia do Sul juntas?
Nossa produção industrial superava esses dois países que hoje são gigantes econômicos. Sabíamos produzir tanques de guerra, computadores, carros, turbinas e até aviões. Éramos uma verdadeira potência emergente que parecia destinada a se tornar desenvolvida. Mas algo deu terrivelmente errado pelo caminho. Hoje, nossa indústria representa apenas 10% do PIB - contra 25% que chegou a representar. Perdemos US$ 100 bilhões em produção industrial desde 2014. "Engenheiro virou motorista de Uber" virou realidade nacional.
Então, hoje vou mostrar os 5 erros fatais da nossa política econômica que nos fizeram parar de crescer - e porque países que mantiveram o Estado ativo prosperaram enquanto nós regredimos.
Vamos analisar cada erro.
Erro 1: Desmonte da política industrial nos anos 1990
O maior erro foi acreditar que bastava "abrir a economia" para nos tornarmos competitivos automaticamente.
Nos anos 1990, decidimos desmantelar toda nossa estrutura de desenvolvimento. Fragilizamos o BNDES e o financiamento de longo prazo - justamente quando países asiáticos fortaleciam seus bancos de desenvolvimento. Extinguimos programas de desenvolvimento tecnológico que tinham décadas de acúmulo. Abandonamos a proteção estratégica a setores nascentes, deixando empresas brasileiras órfãs em mercados dominados por gigantes internacionais.
O resultado foi devastador: empresas como Gurgel, Mafersa, Engesa e Villares - que produziam desde carros até tanques de guerra - simplesmente sumiram do mapa. Perdemos milhares de capacidades produtivas que levaram décadas para ser construídas. Era como jogar o bebê fora junto com a água do banho.
Erro 2: Abertura comercial sem estratégia nacional
A promessa era simples: exposição à concorrência internacional geraria eficiência automaticamente.
Na prática, nossa indústria despencou de 25% para 10% do PIB. Desde 2014, perdemos US$ 100 bilhões em produção industrial - uma das maiores desindustrializações do mundo em valores absolutos.

Nossa pauta exportadora regrediu para commodities: em 2014, apenas cinco produtos (ferro, soja, açúcar, petróleo e carnes) responderam por quase 50% das exportações brasileiras.
Enquanto isso, nossos concorrentes asiáticos faziam exatamente o oposto: combinavam abertura seletiva com proteção temporária, metas de produtividade e incentivos agressivos às exportações de manufaturados. Eles usaram a abertura como ferramenta estratégica, não como fim em si mesmo.
Erro 3: Crença cega de que o mercado resolve tudo sozinho
O grande mito foi acreditar que países ricos chegaram lá apenas com "livre mercado".
A realidade internacional mostra o contrário. Estados Unidos criaram a internet via DARPA, investem pesado em pesquisa militar que vira tecnologia civil depois. China planeja via NDRC (National Development and Reform Commission), coordenando investimentos, infraestrutura e inovação. Coreia do Sul combinou abertura seletiva com política industrial agressiva - o governo escolhia setores prioritários e cobrava resultados das empresas.
Todos os países desenvolvidos combinam mercado dinâmico com planejamento estratégico. Nenhum país relevante no desenvolvimento recente avançou apenas com liberalização comercial descolada de uma estratégia nacional.
Erro 4: Ignorar completamente a experiência internacional
Enquanto o Brasil desmontava o Estado desenvolvimentista, asiáticos faziam o movimento inverso.
A Coreia do Sul nos anos 1960 recebeu a sugestão do Banco Mundial de se especializar em arroz - sua "vantagem comparativa natural". A Coreia ignorou completamente e decidiu desenvolver indústria. Resultado: de economia rural pobre virou potência tecnológica em 50 anos. A China usou política industrial para criar campeões em 10 setores estratégicos via programa "Made in China 2025".

Nós escolhemos o caminho inverso dos que deram certo. Acreditamos que seríamos diferentes, que conseguiríamos nos desenvolver sem Estado ativo. Era como tentar chegar ao topo de uma montanha jogando fora a corda de escalada.
Essa divergência entre o modelo brasileiro pós-1990 e as estratégias asiáticas bem-sucedidas é algo que estudamos detalhadamente em alguns dos nossos cursos da nossa Escola de Complexidade Econômica sobre desenvolvimento econômico do Brasil, onde analisamos como diferentes países lidaram com os desafios da industrialização e inserção competitiva na economia global.
Erro 5: Abandonar completamente a visão de longo prazo
O contraste entre o Brasil desenvolvimentista e o pós-1990 é brutal.
Era Vargas criou Petrobras, CSN, e toda infraestrutura energética que usamos até hoje. JK construiu Brasília, rodovias e integrou o país territorialmente. Militares fizeram Itaipu, polos petroquímicos e infraestrutura que ainda sustenta nossa economia. Havia projeto nacional, visão de longo prazo, coordenação estratégica.
Pós-1990 a filosofia virou: "deixa o mercado decidir". Resultado: economia das padarias, shopping centers e motoristas de Uber. Ciclos eternos de boom e bust de commodities. Armadilha da renda média há décadas. Incapacidade crônica de competir em produtos complexos que geram emprego de qualidade.
O mais frustrante é que o Brasil tem todos os ativos para reverter essa trajetória: matriz energética limpa, biodiversidade única, agronegócio competitivo mundialmente, rede de universidades e talentos espalhados pelo país. O que falta não é capacidade nem recursos - o que falta é redescobrir que desenvolvimento requer projeto nacional, não apenas fé no mercado livre.
Países como Estados Unidos, Alemanha, Coreia e China prosperaram porque souberam combinar mercado dinâmico com planejamento estratégico. Abertura comercial sim, mas com estratégia nacional, não abandono do Estado. O futuro não está dado - ele será construído. A escolha está, como sempre, em nossas mãos.
Um grande abraço!
Paulo Gala
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🚨 Matrículas se encerram no dia 10 de Julho.
Tem uma diferença brutal da China para o Brasil. O estado lá apoia empresas e as abandona se não forem eficientes. Aqui o benefício fica eterno mesmo s nada produzir
enquanto o debate for monopolizado por "coachs" ou "comentaristas" contratados pelos jornais de massa nós estamos ferrados. São pessoas que insistem no dogma liberal, mesmo dogma que nos trouxe até aqui. Eles não possuem plano algum pro país. Acreditam que forças "naturais" do mercado conduzirão o país ao olimpo. Mercado pensa no retorno e no curto prazo, é dominado por fundos estrangeiros, jamais terão em mente o sucesso do Brasil